terça-feira, 14 de dezembro de 2010

EDUCAÇÃO NO FUNDO DO QUINTAL

     O artigo do professor José Maria Vasconcelos, com o título acima, está fantástico. Por isso, este blog, reedita-o por merecimento desse mestre de nosso idioma. José Maria ensina, sem eufemismo, que aprendemos com galos, galinhas, pintos e jandaias. Que beleza, professor!... Um abraço.
     Na minha casa, educação começa no quintal, onde o galo administra a ordem no terreiro, sem perder de vista bandos de barulhentas jandaias que atravessam os céus de Teresina, religiosamente no início da manhã, com retorno no final da tarde. Se rondeia uma ave de rapina, o galo emite surdo e ligeiro sinal de alerta. Galinhas silenciam, não se movem, enquanto os pintos, caladinhos, buscam um abrigo. Nos céus, jandaias, uníssonas e tagarelas, obedecem ao líder da fileira. Observando a Natureza, eu me fascino, só de contemplar a ordem na fauna, flora, estações, clima, tempo, Sol e Lua. Encantador espetáculo, em que a pluralidade se abraça à singularidade, orquestrada por maestro divino, de endoidar presunção científica, que assiste a tudo como obra do acaso. Talvez, lhe falte aprender lições de equilíbrio, disciplina e limites, instintivamente instalados até no DNA das pétalas de uma flor.
     Por desconhecer segredos da Natureza, muita gente a agride, desagregando-se e se matando uns aos outros. De um modesto fundo de quintal, extraem-se lições de vida em comunidade: a tonalidade da voz de um líder obedecida pelo grupo, que oferece segurança e harmonia ao território.
     Filhos evoluiriam no bem, se ouvissem seus pais e lhes obedecessem. Pais educariam melhor seus filhos, se lhes oferecessem testemunhos de vida e os assistissem com a mesma dedicação com que conduzem a empresa, inclusive cobrando-lhes, como agem com os clientes devedores, em vez de só presenteá-los.
     Há uma ordem natural em meu galinheiro: galo não namora galo, nem galinha se apaixona por galinha. Todos preservam a inocência dos pintos, olhando pro céu, se vem inimigo, se aparece anjo redentor.
     A comunidade humana, que tanto fala na educação dos limites, comporta-se com paradoxais condutas: em vez de defender o lar, cuida apenas da residência. Em vez do sexo sadio, as taras e mecanismos contra a vida. Do amor sublimado entre casais, a furupa das aventuras ilícitas e desagregação da família.      Do consumo natural dos alimentos, a ingestão de drogas malditas. Da partilha da riqueza, ao embrutecimento da disputa. Da fé no sobrenatural, a descrença nos valores sublimes das virtudes. Não, não aguento me espelhar nos padrões humanos, sem aurir algumas lições da Natureza, no fundo meu quintal. Galos, galinhas, pintos e jandaias são, também, meus professores.

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