Nem a prisão, durante 27 anos, abateu o seu ânimo. E 27 anos, o equivalente a 324 meses, 9.720 dias preso, acabam com a capacidade física e mental de qualquer um. Estiolam o ideal. Desestimulam as forças. Enrijecem o coração. Tornando o homem bruto, apático, desumano e irracional. Poucos suportariam tão longo período trancafiado. E sabendo ter sido a sentença que o condenou abjeta de todo o ódio segregacionista jamais visto. Suportou a prisão, as humilhações e todo o rancor de uma casta social nacional e internacional que insiste em manter o mundo separado, dividido e segregado. E Nelson Mandela, embora presidiário, nos longos 27 anos, a tudo tolerou e vivenciou. E ainda teve o espírito elevado para negociar com os próprios brancos que o deploravam, em vista de sua defesa, pela extinção do regime do apartheid na África do Sul – a sua pátria amada.
Preso. injustiçado. Humilhado. E arrostando para si todo o ódio do branco africano, Nelson Mandela não deixou transparecer possuir ressentimentos daqueles que o apedrejaram e suplantou tudo. Elegeu-se presidente da África do Sul numa negociação ampla, somente encontrada nos verdadeiros estadistas. E era um estadista na prisão. Agora, o mesmo estadista como chefe de Estado em seu país. Com extraordinário poder de conciliação, o estadista Mandela fará do seu país, mesmo encontrando tudo e todos destroçados, uma nação das mais prósperas do continente, retornando, então, à África para o seu lugar de proeminência naquela parte do mundo.
A Guerra Civil Africana, produto do regime de apartheid, deixou o povo africano sem democracia durante dezenas de anos. E mais de 300 anos de segregação, segundo a inteligente deputada Benedita de Silva, do PT carioca, em fundamentado artigo na Folha de São Paulo.
À posse do líder negro Mandela estiveram presentes mais de 179 chefes de Estado. A sua eleição foi aplaudida pelo mundo. Resta-lhe, como afirmei acima, um país destroçado, tendo que administrar, como presidente, uma nação de contrastes, os resquícios dos 300 anos de apartheid, as disparidades sociais e econômicas entre negros e brancos (estes, ricos) e dar estabilidade ao regime político, agora implantado. Terá uma tarefa gigantesca pela frente. Certamente, não lhe faltará a capacidade, sucumbindo ao imobilismo inebriante do poder conseguido, após tanta luta.
O presidente Mandela, agora, é cidadão do mundo. A paciência, somente comparável à de Mohandas Gandhi, continuará sendo o arcabouço e o embasamento de sua ação benéfica em prol do povo sul africano. Será, com certeza, a maior figura política deste fim de século. E no Brasil, somente Luís Carlos Prestes, também preso no governo ditatorial civil de Getúlio Vargas durante 7 anos, pela defesa sensata de seu ideal, terá algum paralelismo com Mandela (Artigo publicado, em 1993, no jornal Diário do Povo).
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
VIVA NELSON MANDELA!
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