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A maior jogada sócio-político-administrativo do presidente Lula, não foi a ampliação do Bolsa-Família e do “Luz para todos”, criação de 15 milhões de postos de trabalho, instalação de 14 universidades e de 214 Institutos Federal Tecnológico de Educação, resgate de 30 milhões de brasileiro da linha de pobreza, pagamento da dívida externa, construção da Transnordestina, desvio das águas do Rio São Francisco, implantação das refinarias da Petrobrás em Pernambuco e no Maranhão... mas, a escolha da petista Dilma Rousseff, como candidata presidencial à sua sucessão. Nenhum outro presidente teve essa idéia. E mais que isso: a coragem, a ousadia e a determinação de escolher uma mulher para sucedê-lo. Notadamente, quando há um histórico preconceito nacional de que as mulheres não têm capacidade e serenidade, embora dotadas de maior sensibilidade que os homens, para gerenciar a coisa pública, ainda que 56% da população brasileira seja constituída de mulheres. Exatamente nesse ponto e na desconstrução do preconceito é que Lula decidiu e investiu porque estava exercendo um ineditismo político de grande risco (escolher uma mulher à sua sucessão). Porém, sabedor de que esse forte potencial eleitoral precisava ser acionado, exercido e apoiado pela primeira vez nas eleições brasileiras. Além desse fator, que entendo primordial, Lula também se prevaleceu da sua fantástica popularidade, em todos os segmentos sociais do país; especialmente nas classes mais humildes (sem menosprezar os ricos), que se identificam com a sua origem de homem pobre e nordestino migrante. Espetacular no presidente é que emergeu como líder no Estado mais rico do Brasil.
Essas iniciativas, metas e projetos executados e em execução deram ao presidente Lula a invulgar liderança e credibilidade (83% de aprovação), despontando como o melhor avaliado entre todos os presidentes da República, pós-redemocratização, superando José Sarney, Collor de Melo, Itamar Franco e FHC. Podendo dizer-se, sem receios, sem elogios graciosos, sem aulicismos, que Lula é o “Estadista da Redemocratização”. Ou, como exorta a Folha de São Paulo no editorial de 19.12.2010: “Apesar das ressalvas, o presidente Lula deixa o governo como estadista democrático que honrou boa parte dos compromissos assumidos numa trajetória épica”.
Mas, Lula, que exerceu honradamente o cargo, nada obstante o escândalo do Mensalão – o mais notório dos escândalos – deixa Dilma Rousseff como sua sucessora, que fará, tenho certeza, uma gestão mais audaciosa, mais centrada politicamente e mais produtiva. Pois, detém o embasamento técnico cientifico adquirido em escolas superiores. Evidente que falta no presidente, porém, sem demérito.
Não passo, entretanto, para ser político e cientificamente justo, dizer que as contribuições das gestões dos antecessores, especialmente dos presidentes José Sarney e FHC, auxiliando eficazmente no sucesso da profícua administração governamental de Lula; respeitado em FHC, os fundamentos econômicos e financeiros da estabilização das políticas econômicas e monetárias, como metas inflacionarias, superávit fiscal e primário, câmbio flutuante e controle de juros. Em Sarney, a angustiante, estafante e dificílima tarefa de fazer a transição democrática, que modelou o futuro democrático do país; negociando com as extremas direita e esquerda, sempre divergentes; e os militares golpistas e saudosistas de 1964.
A história do Brasil, queiram ou não os historiadores, os cientistas políticos, sociólogos e antropólogos, sofreu mudanças estruturantes, a partir de Lula; contudo, sem desconhecer e desmerecer as relevantes realizações dos antecessores, que foram válidas; inclusive do ciclo militarista, embora com os profundos desrespeitos aos direitos humanos, com perseguições, prisões, torturas e exílio...